SOBRE ACADEMIA, MEMÓRIA E IMAGINAÇÃO

INTRODUÇÃO

Bento Santiago, personagem central de “Dom Casmurro”, anuncia que o seu “fim evidente”, ao escrever o livro, era atar as duas pontas da vida, “e restaurar na velhice a adolescência”.

Essa passagem sempre mexeu comigo – já fiz referência a ela na nota do autor da versão comercial de minha tese de doutorado, inclusive. Uma exigência da vida universitária impôs-me unir duas pontas de minha vida: do ainda-adolescente que em 1993 entrou na Faculdade de Direito ao professor que agora pretende ser promovido ao posto mais alto da carreira. Vinte e oito anos de vida universitária, vinte e três como professor, dezenove na Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia (UFBA), incluindo a fase como substituto: esse é o período entre as duas pontas. Só não sei se pretendo, como o casmurro, restaurar a adolescência na meia-idade, até porque, se o menino for realmente o pai do homem, intuo que sou o que era – como Capitu, o Fredie da “Praia da Glória já estava dentro [do] de Mata-cavalos (…), [um] estava dentro do [outro], como a fruta dentro da casca”.

Ao me debruçar sobre minha própria história, reconheci no menino uma dimensão adulta e, no adulto, teimosas dimensões meninas.

Essa história será contada na primeira pessoa do singular. Embora o narrador seja também o objeto da narrativa – e, assim, haja dois “eus” – e a etiqueta recomende, muitas vezes, a modéstia do plural majestático, sendo o memorial um pressuposto formal para a progressão de um funcionário público, a singularidade se impõe como estilo.

 

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